As recentes alterações no trânsito da Enseada do Suá, em Vitória, geraram forte reação da população local, que agora exige explicações e medidas corretivas por parte do poder público. A mudança mais polêmica ocorreu na Rua Clóvis Machado, onde a criação de uma nova faixa de tráfego resultou na eliminação de vagas de estacionamento público. Moradores e comerciantes da região alegam que não foram consultados previamente e que a modificação descumpre normas previstas no Estatuto das Cidades. O debate sobre a intervenção se intensificou, culminando na convocação de uma reunião pública na Assembleia Legislativa.
O encontro acontecerá no dia 14 de julho, às 11h, no Plenário Rui Barbosa, reunindo representantes da Prefeitura de Vitória, da comunidade e do Ministério Público do Estado. A Comissão de Infraestrutura da Assembleia aprovou a realização da audiência, motivada por denúncias de falta de estudos técnicos e ausência de participação popular. A principal preocupação dos moradores é que a nova configuração viária tenha sido implementada sem a devida análise dos impactos ambientais e de vizinhança, além de contrariar diretrizes do Plano Diretor Urbano.
O advogado Carlos Zaganelli, representante jurídico da Associação dos Moradores, Empresários e Investidores da Enseada do Suá, afirma que a gestão municipal ignorou as exigências legais ao realizar as obras sem audiências públicas. Ele destaca que a remoção de vagas prejudicou comerciantes e trabalhadores da região, criando dificuldades no acesso e na mobilidade local. Segundo ele, o Ministério Público foi acionado e determinou a suspensão de novas intervenções até que a prefeitura apresente seu plano de mobilidade de forma clara e documentada.
A situação gerou ainda mais insatisfação quando a prefeitura não cumpriu, dentro do prazo estipulado, a entrega das informações solicitadas pelo Ministério Público. A Associação dos Moradores emitiu nota de repúdio, destacando que a atual configuração da Rua Clóvis Machado contraria as decisões anteriores deliberadas em assembleia popular, ferindo princípios de transparência e respeito à comunidade. O caso se tornou símbolo de uma gestão municipal acusada de promover mudanças sem diálogo efetivo com a população.
Na quinta-feira anterior à decisão da Assembleia, moradores e comerciantes organizaram um protesto, bloqueando uma das pistas da via em direção à Terceira Ponte. O ato teve como objetivo chamar a atenção para os prejuízos causados pela reconfiguração do tráfego e para a falta de escuta por parte do poder público. Os manifestantes criticaram a imposição de uma nova faixa contrária ao fluxo original e a retirada dos acostamentos, elementos considerados fundamentais para a segurança e funcionalidade da via.
O presidente da Comissão de Infraestrutura da Assembleia, deputado Alexandre Xambinho, reforçou que qualquer alteração no sistema viário precisa ser antecedida por consultas públicas. Para ele, é inaceitável que uma decisão de tamanha importância seja tomada sem considerar o impacto direto na rotina dos moradores. O parlamentar defende que mudanças na mobilidade urbana devem ser planejadas para beneficiar a coletividade e não apenas interesses isolados de empreendimentos ou setores econômicos específicos.
Diante da pressão, os moradores esperam que a reunião na Assembleia seja um verdadeiro espaço de escuta e construção de soluções. Entre as exigências estão a realização de estudos de impacto ambiental, a apresentação de dados técnicos atualizados e a retomada do diálogo entre prefeitura e comunidade. O movimento popular deixa claro que não aceitará reuniões simbólicas ou processos conduzidos sem a devida transparência, e cobra o envolvimento ativo do Ministério Público no acompanhamento das medidas.
O caso da Enseada do Suá evidencia a importância da participação cidadã na gestão urbana. As decisões que afetam a mobilidade, o comércio e a qualidade de vida de uma região precisam ser tomadas com base em dados, planejamento e, principalmente, escuta pública. A expectativa é de que o episódio sirva como exemplo para que futuras intervenções na cidade de Vitória sejam conduzidas com mais responsabilidade e respeito à coletividade.
Autor: Arkady Prokhorov