De acordo com o especialista Rodrigo Balassiano, a indústria de fundos vive uma transformação sem precedentes. Com a aceleração das tecnologias digitais, especialmente a tokenização de ativos, o cenário tradicional da administração e custódia financeira começa a ser repensado. O que antes era feito com papéis físicos, contratos demorados e intermediários múltiplos agora pode ser convertido em tokens digitais, operados em tempo real e com transparência garantida por blockchain.
Esse novo mundo traz oportunidades, mas também desafios regulatórios e operacionais para todos os envolvidos. Neste artigo, vamos explorar como essa revolução afeta diretamente a administração de fundos, a custódia de ativos, os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) e as regras estabelecidas pela ICVM 175.
Como a tokenização está mudando a administração de fundos?
A tokenização permite converter ativos, sejam eles imobiliários, de renda fixa ou variável, em unidades digitais negociáveis. Isso impacta diretamente a forma como os fundos são administrados, pois elimina muitos processos manuais e intermediários tradicionais. Rodrigo Balassiano frisa que a gestão passa a ser mais ágil, precisa e automatizada, graças ao uso de contratos inteligentes, que executam automaticamente cláusulas contratuais e distribuições de proventos.
Essa mudança também exige novas competências dos administradores de fundos. Eles precisam entender e integrar sistemas baseados em blockchain, garantir conformidade com normas de compliance digital e assegurar a segurança dos dados dos investidores. A administração não é mais apenas burocrática; ela se torna tecnológica e estratégica. Portanto, quem quiser permanecer relevante nesse mercado terá que investir em infraestrutura digital e conhecimento especializado.
Como a custódia será afetada pela tokenização de ativos?
A custódia tradicional é responsável por guardar e proteger os ativos dos fundos, além de registrar suas movimentações. No mundo pós-tokenização, essa função passa por uma redefinição. Segundo Rodrigo Balassiano, os tokens representativos dos ativos ficam armazenados em carteiras digitais, cuja segurança depende de criptografia e chaves privadas. Isso reduz a necessidade de custodiantes tradicionais, substituindo-os por soluções descentralizadas e seguras de custódia digital.

No entanto, isso não elimina a necessidade de um custodiante, mas sim muda seu papel. As instituições que atuam na custódia devem evoluir para oferecer serviços de guarda digital, com certificações de segurança cibernética e integração com blockchains confiáveis. Além disso, elas precisam lidar com questões como recuperação de chaves e resiliência contra ataques digitais. A custódia do futuro exigirá expertise técnica e jurídica, adaptando-se a esse novo ecossistema.
Como FIDCs e a ICVM 175 se encaixam nesse novo contexto?
Rodrigo Balassiano evidencia que os FIDCs têm papel importante no financiamento do setor produtivo brasileiro, permitindo a captação de recursos para empresas via securitização de créditos. Com a tokenização, a emissão e negociação desses direitos creditórios pode ocorrer de maneira mais eficiente e transparente. Tokens podem representar parcelas de dívida empresarial, facilitando sua comercialização e liquidação automática por meio de smart contracts.
Já a ICVM 175, que regula os fundos de investimento no Brasil, enfrenta o desafio de se adequar a essas inovações. Embora ainda não contemple formalmente a tokenização, há espaço para interpretações flexíveis, desde que haja respaldo legal e supervisão adequada. A CVM tem demonstrado interesse em atualizar seu marco regulatório, incentivando a inovação sem comprometer a proteção dos investidores. Assim, a adaptação da ICVM 175 será crucial para que o Brasil acompanhe o ritmo global da tokenização.
Preparando-se para o futuro da indústria de fundos
Assim, Rodrigo Balassiano reflete que a tokenização não é uma tendência passageira, mas sim uma revolução estrutural na forma como os mercados financeiros operam. A administração e a custódia de fundos estão diante de uma nova era, onde a tecnologia redefine papéis, processos e modelos de negócio. Os FIDCs e a própria ICVM 175 precisam se ajustar para aproveitar os benefícios dessa transformação, mantendo a segurança jurídica e a confiança dos investidores.
Quem souber se adaptar rapidamente às mudanças tecnológicas e regulatórias terá vantagem competitiva significativa. A indústria de fundos do futuro será aquela que conseguir unir inovação, compliance e eficiência operacional. O caminho é longo, mas necessário — e o tempo para começar a trilhá-lo é agora.
Autor: Arkady Prokhorov