Durante a abertura da Reunião Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em Vitória, o governador Renato Casagrande (PSB) foi confrontado por ambientalistas. O evento, que ocorreu no Teatro da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), foi marcado por um novo protesto do Movimento em Defesa das Unidades de Conservação (UC). Os manifestantes se opuseram ao Programa Estadual de Desenvolvimento e Uso Sustentável das Unidades de Conservação (Peduc), que prevê a transferência da gestão de áreas protegidas para a iniciativa privada, com leilões programados para 2025.
Os ambientalistas exigiram a revogação do Peduc, que foi idealizado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama), sob a liderança de Felipe Rigoni. O programa prevê a concessão da gestão de seis parques naturais à iniciativa privada por um período de 35 anos. Durante o ato, Casagrande enviou um assessor para dialogar com os manifestantes e se comprometeu a agendar uma reunião para discutir a questão, demonstrando abertura ao diálogo.
Nelson Lara, diretor do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Espírito Santo (SindijudES), foi um dos que cercaram o governador na entrada do evento. Ele informou que uma comissão do movimento será formada para participar da reunião, cuja data ainda será definida. O grupo pretende enfatizar a necessidade de interromper o Peduc, que, segundo os ambientalistas, representa uma mercantilização da natureza e uma ameaça à conservação ambiental.
A manifestação teve como objetivo expor as contradições na política ambiental de Casagrande em um evento de visibilidade nacional. O tema do encontro, “Clima e Oceano: a Urgência de Construir um Futuro Sustentável”, contrasta com as ações locais do governador, que se projeta nacionalmente a partir da agenda de mitigação da crise climática. Os manifestantes argumentam que sua atuação desrespeita os princípios ambientais defendidos pelo Consórcio Brasil Verde, do qual Casagrande é presidente.
O biólogo Walter Có criticou o avanço de políticas que facilitam a exploração comercial de áreas naturais protegidas. Ele afirmou que “há um ataque no Brasil inteiro contra as unidades de conservação”, destacando que conceitos como sustentabilidade e educação ambiental foram apropriados pelo sistema econômico. Segundo ele, atividades que se autodenominam sustentáveis muitas vezes violam os princípios fundamentais dessa ideia, comprometendo a preservação ambiental.
Walter também alertou que os impactos ambientais já não são mais previsões futuras, mas realidades concretas, evidenciadas por fenômenos como calor extremo e enchentes. Ele enfatizou a urgência de ações para enfrentar essa realidade, afirmando que a inação pode levar a um agravamento acelerado da crise ambiental. A situação atual exige uma resposta imediata e eficaz para mitigar os danos já causados.
A pesquisadora Beatriz Brito, que estuda a espécie de anfíbio Phyllodytes luteolus no Parque Estadual Paulo César Vinha, expressou preocupação com o enfraquecimento dos órgãos ambientais. Ela alertou que ameaças ao parque podem desencadear um efeito dominó em outras espécies vulneráveis. Beatriz criticou as medidas do governo, que, segundo ela, não combatem problemas como incêndios e contrabando, mas, ao contrário, podem agravar a situação.
Cleuser da Silva, representante do coletivo de meio ambiente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), destacou os impactos sociais e econômicos da concessão. Ele afirmou que a concessão de parques estaduais e nacionais à iniciativa privada tem gerado consequências negativas evidentes. Para ele, o programa de desenvolvimento sustentável não é sustentável, pois privilegia o fator econômico em detrimento do meio ambiente e das populações locais, criando um desequilíbrio preocupante.